Visitar os campos de extermínio de Auschwitz I e Auschwitz II – Birkenau é uma experiência que marca para sempre. 

Para muitos, a trajetória de aprendizado sobre o Holocausto se limita a filmes, livros ou ao que se aprende na escola. Mas estar nesses locais, pisar no chão onde milhões de pessoas sofreram e foram assassinadas é algo que ultrapassa qualquer descrição.

Aqui, diante das estruturas preservadas e dos rastros do horror, Auschwitz deixa de ser um capítulo da história e se torna um golpe direto na consciência. O que antes parecia distante se torna assustadoramente real.

Como visitar Auschwitz e Birkenau

Os campos estão localizados na cidade de Oświęcim, 70 km ao oeste de Cracóvia, na Polônia. Muitas empresas oferecem tours guiados, que incluem transporte e guia, com um custo médio de 130 PLN.

Optamos por fazer tudo por conta própria. Compramos a passagem de trem ida e volta por 26,50 PLN por pessoa e, como era inverno, entramos gratuitamente nos museus. 

Durante as outras estações do ano, é obrigatório aderir a um tour guiado – seja por empresas ou pelo próprio museu.

Para compreender melhor o complexo e suas divisões, compramos um guia impresso na livraria do museu por 5 PLN, contendo explicações de todas as áreas dos campos (exceto das exposições específicas sobre países e etnias). O conteúdo do guia é utilizado pelas visitas guiadas, garantindo um passeio rico em informações.

Desde o início, você percebe que a experiência é profissional e respeitosa. 

Mais do que fins turísticos, o propósito é preservar a memória e garantir que esse horror nunca se repita.

Na entrada de Auschwitz I, a fria e cínica frase “Arbeit Macht Frei” (“O Trabalho Liberta”) estampada no portão de ferro já impõe um impacto avassalador. É impossível não sentir o peso da história.

Logo em seguida, começamos a percorrer um dos lugares mais sombrios da humanidade.

Auschwitz I: o primeiro campo de concentração

O nome “Auschwitz” não existia antes da guerra. Quem deu essa denominação foi a Alemanha nazista. O local escolhido para a construção do campo foi a cidade de Oświęcim, por conta de sua localização estratégica e da ampla rede ferroviária, que facilitava o transporte dos prisioneiros.

Inicialmente, Auschwitz I era utilizado como prisão para opositores políticos do regime nazista. Mas, logo, passou a receber soldados soviéticos, ciganos, judeus poloneses e outras minorias, transformando-se no coração da máquina mortífera nazista a partir de 1941, com a implementação da “Solução Final”. Oświęcim foi o lugar escolhido por sua localização estratégica e por ficar longe de centros urbanos, em um lugar onde eles poderiam fazer tudo aquilo sem serem descobertos.

A maior parte das construções continua intacta, inclusive celas, dormitórios, escritórios, banheiros, laboratórios e as câmaras de gás.

Um passado que grita em silêncio

As visitas ocorrem pelos prédios que serviam de alojamento. Dentro das instalações, as salas apresentam exposições temáticas que relatam a história dos campos de concentração, explicam todas as atrocidades cometidas pelos nazistas, como era a vida nos campos, métodos de execuções e procedimentos.

É profundamente angustiante ver os locais onde estão amontoadas malas, toneladas de sapatos e outros pertences “sem valor” dos prisioneiros, além de próteses e muletas (pessoas com deficiência eram eliminadas assim que chegavam). Também foi particularmente chocante ver as 7 toneladas de cabelos encontradas pelo Exército Vermelho quando os russos libertaram o campo (os cabelos eram utilizados para o forro de roupas, entre outras finalidades).

Condições desumanas

Nos barracões de alojamento os presos se amontoavam em condições desumanas. As estruturas, como banheiros e lavatórios, eram insuficientes para a quantidade que aumentava a todo instante. O campo chegou a abrigar 20 mil presos ao mesmo tempo. Você pode encontrar algumas celas, pequenas e com pouquíssima ventilação, onde prisioneiros que estavam servindo de mão de obra se amontoavam para dormir. Muitos morriam de exaustão ou sufocados. 

A identificação dos prisioneiros

Ao chegarem ao campo, todos os prisioneiros passavam pelo mesmo protocolo:

  • Os cabelos eram raspados para evitar infestações de piolhos e coletar material têxtil para indústrias alemãs.
  • Recebiam um número de registro. Muitos tinham esse número tatuado, especialmente os que permaneceriam no campo por mais tempo.
  • Fotografias eram tiradas, e pequenos arquivos eram produzidos com informações básicas, como nome, nacionalidade e data de chegada.

Hoje, milhares desses retratos estão expostos nos corredores das prisões do campo. Os olhares vazios e desesperançosos dos prisioneiros fixam-se naqueles que caminham por ali. 

Havia também uma separação dos prisioneiros. Homens eram divididos de mulheres e crianças, e os doentes ou incapacitados eram imediatamente encaminhados para execução.

Aqueles que pareciam fisicamente aptos eram poupados momentaneamente para realizarem trabalhos forçados, mas o destino final era o mesmo para todos.

Todos os pertences valiosos eram separados e enviados para os alemães em carregamentos constantes de trem. Os dentes de ouro eram extraídos e levados para fábrica de fundição dos nazistas.

Auschwitz e o extermínio em massa

O campo começou com execuções isoladas, principalmente por fuzilamento e espancamento. Mas, conforme a guerra avançava e o número de presos aumentava, os nazistas perceberam que precisavam de outros métodos mais “rápidos”.

Foi quando começaram a utilizar o gás Zyklon B, que permitia matar até 2.000 pessoas por vez.

A partir de 1942, Auschwitz se tornou um dos principais centros da “Solução Final”.

Os prisioneiros chegavam em vagões de carga, completamente superlotados, viajando por dias sem comida ou água. Muitos já chegavam mortos.

Triagem cruel

Os que desembarcavam passavam imediatamente por uma triagem cruel:

  • Homens e mulheres eram separados.
  • Crianças e idosos iam diretamente para as câmaras de gás.
  • Os mais fortes eram selecionados para trabalho escravo.

Muitos presos foram utilizados como trabalho escravo, primeiro no próprio campo fazendo a ampliação das instalações, depois nas diversas fábricas nazistas durante a guerra, principalmente em atividades de risco, como minas de carvão, produção de armas e produtos químicos e ampliação de plantas industriais.

De cada novo carregamento, cerca de 80% eram mortos em poucas horas.

Tudo planejado

O que mais nos impactou foi o nível de planejamento dos nazistas para manter os prisioneiros tranquilos até o último momento:

  • Diziam que Auschwitz era um assentamento no leste europeu para onde eles seriam realocados.
  • Muitos compraram passagens e propriedades fictícias, acreditando que recomeçariam suas vidas.
  • Ao chegar, eram instruídos a etiquetar suas malas, garantindo que as pegariam depois.

Tudo era fingimento. A trajetória já estava definida.

Milhares morreram em decorrência da fome e desnutrição. Ao final da guerra algumas mulheres sobreviventes foram encontradas pesado apenas 23 kilos, praticamente pele e osso. A alimentação diária consistia em café ou chá pela manhã, sopa feita só de água e verduras podres no almoço e 300 a 350 gramas de pão preto com 30 gramas de linguiça na janta.

Laboratório

O hospital que existia no campo funcionava como laboratório, onde principalmente mulheres e crianças eram utilizadas como cobaias dos experimentos sádicos de médicos e cientistas, que incluíam esterilização e testes de novos componentes tóxicos.

Ao lado do “hospital”, no bloco 11, ficava o pátio onde estava o chamado “paredão de execuções, onde foram assassinados milhares de presos, essencialmente acusados de traição, conspiração, crimes políticos, tentativas de fuga ou outros crimes considerados imperdoáveis.

Crematórios

Uma das partes mais chocantes da visita é conhecer os crematórios, onde diariamente eram incinerados 300 a 350 corpos por dia em cada forno. Como isso não era suficiente, foram criados fossos de cremação, onde eram jogados milhares de corpos diariamente. As cinzas humanas eram utilizadas como fertilizantes.

Uma das salas do crematório funcionou como câmara de gás utilizada entre 1941 e 1942. Com a escalada do terror, construíram estruturas maiores para dar conta da quantidade de pessoas que eles pretendiam matar.

Sinceramente, nada na vida te prepara para visitar um lugar onde que tantas atrocidades foram cometidas.

Auschwitz II - Birkenau: a fábrica da morte em larga escala

A 3 km de Auschwitz I, o campo de Auschwitz II – Birkenau foi construído em 1941 para expandir o extermínio de judeus e outros prisioneiros. Birkenau tornou-se a “linha de montagem” da morte.

Se Auschwitz I tinha 28 barracões, este campo tinha mais de 300 e comportava até 100 mil presos simultaneamente.

Os trilhos de trem passavam diretamente para o interior do campo, levando as vítimas diretamente para as câmaras de gás, sem nenhuma chance de luta ou negociação.

Os corpos eram incinerados imediatamente nos crematórios gigantes construídos pelos nazistas.

Nos últimos meses da guerra, quando as câmaras já não davam conta, os corpos dos prisioneiros foram queimados nas valas de cremação ao ar livre.

Por isso o número exato de mortos nos campos de Auschwitz I e Auschwitz II – Birkenau é impreciso, mas estima-se que variem entre 1,2 e 1,5 milhão de pessoas. Cada rodada de execução nas câmaras de gás enviava cerca de 2.000 pessoas ao mesmo tempo, que morriam entre 15 e 20 minutos.

A tentativa de exterminar as provas

Quando a derrota nazista estava clara, os oficiais tentaram destruir Auschwitz para apagar suas atrocidades. Muitos dos crematórios foram implodidos por eles mesmos. 

Na libertação pelo Exército Vermelho (russos), em 1945, encontraram estoques de cabelo humano, toneladas de cinzas e milhares de sapatos e roupas deixados para trás.

No meio das ruínas, o Monumento Internacional das Vítimas do Nazismo, inaugurado em 1967, relembra a tortura vivida por milhões.

O que você encontrará em Auschwitz II-Birkenau

Enquanto o campo de concentração de Auschwitz manteve as construções praticamente intactas, o que sobrou em Auschwitz II-Birkenau são principalmente ruínas, um testemunho silencioso do horror que ocorreu ali. 

As ruínas dos crematórios e câmaras de gás permanecem como lembranças sombrias do extermínio em massa. Além das ruínas das construções que foram destruídas pelos nazistas em uma tentativa de apagar as evidências de seus crimes, algumas foram danificadas durante uma revolta dos prisioneiros judeus do Sonderkommando em outubro de 1944. Esses prisioneiros, que trabalhavam forçadamente nas câmaras de gás e crematórios, se rebelaram ao perceberem que seriam mortos, destruindo parcialmente o Crematório III e incendiando o Crematório IV. Além das ruínas, o local abriga alguns prédios preservados, como os barracões de madeira onde os prisioneiros eram alojados, e a “rampa da morte”, onde os deportados eram selecionados para o trabalho escravo ou para as câmaras de gás. Caminhar por Birkenau é uma experiência profundamente impactante, que nos confronta com a escala da tragédia e a importância de preservar a memória do Holocausto.

Lições para a vida

Nenhuma aula de história prepara alguém para Auschwitz. As ruínas, os trilhos enferrujados, os restos dos crematórios… tudo ali grita.

As atrocidades nazistas não podem ser esquecidas. Auschwitz não é apenas um museu. É um lembrete vivo das consequências do ódio. Para que nunca mais se repita.

Informações práticas

📍 Onde fica: Oświęcim, Polônia (70 km de Cracóvia)

🚆 Como chegar: trem ida e volta por 26,50 PLN  

🚆Auschwitz 1 fica cerca de 3,5km de Auschwitz 2 Birkenau: vá de ônibus ou de táxi

🎟 Entrada: Gratuita no inverno; obrigatória com guia no restante do ano

Duração da visita: 3 a 4 horas

Seja respeitoso com o lugar e com a memória de milhões de vítimas.

Se você um dia for a Auschwitz, vá preparado. A visita transforma.

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