Imponente sobre a colina de Hradčany, o Castelo de Praga (Pražský hrad) é o maior complexo de castelo antigo do mundo, segundo o Livro Guinness de Recordes. Sua silhueta domina o horizonte da cidade, uma presença constante que parece vigiar a vida que flui abaixo, como tem feito há mais de mil anos.

Fundado no século IX, o castelo não segue aquele estilo tradicional que muitos imaginam, com muralhas defensivas e torres de vigia em um prédio único e monocromático. É, na verdade, um vasto complexo que se estende por 45 hectares, abrangendo palácios, igrejas, jardins e torres que representam praticamente todos os estilos arquitetônicos dos últimos mil anos: do românico ao barroco, passando pelo gótico e renascentista. Uma mistura que, pela habilidade de seus arquitetos, funciona em profunda harmonia. 

A melhor forma de explorar o Castelo

Por causa de sua impressionante extensão, conhecer o Castelo de Praga requer uma estratégia. A maneira mais fácil de explorá-lo é entrar pelo lado de Hradčany, o charmoso bairro que circunda o castelo, e seguir caminhando até sair pelo lado voltado ao rio Moldava e à Ponte Carlos.

O bairro de Hradčany, com suas ruas estreitas de paralelepípedos e casas coloridas dos séculos XVII e XVIII, oferece uma introdução perfeita ao mundo do castelo. As antigas residências de artesãos e serviçais da corte hoje abrigam cafés aconchegantes, pequenas galerias de arte e lojas de artesanato que parecem paradas no tempo. Ao caminhar por estas ruas, você já começa a sentir o peso da história antes mesmo de cruzar os portões do castelo.

Depois de passear pelo complexo do Castelo, uma magnífica recompensa aguarda você: a monumental escadaria que desce em direção ao rio Moldava. Composta por cerca de 200 degraus de pedra divididos em diversos lances, essa escadaria barroca é adornada com estátuas e balaustradas trabalhadas, criando um caminho cerimonial que parece conduzir do céu à terra. 

À medida que você desce, o panorama da Cidade Pequena (Malá Strana) e da Ponte Carlos se revela gradualmente, oferecendo algumas das vistas mais fotografadas de toda Praga. Em dias claros, o contraste entre as águas azul-esverdeadas do Moldava, os telhados vermelho-alaranjados e as torres góticas cria uma composição visual que permanece na memória para sempre.

Se tiver tempo (e pernas), faça o trajeto da escadaria de dia e de noite (é livre, sem precisar entrar no Castelo), para que você possa experimentar Praga em toda a sua magnitude.

Como o Castelo é dividido

O Castelo de Praga é estruturado em torno de três grandes pátios, cada um representando uma época e função específica:

O Primeiro Pátio, ou Pátio de Honra, é a entrada formal do complexo, onde acontece a célebre troca da guarda. Com seu estilo barroco e o impressionante Portão do Gigante, este espaço já estabelece o tom grandioso do que está por vir.

O Segundo Pátio marca a transição para o coração administrativo do castelo. Aqui encontramos a antiga Chancelaria Imperial e a Fonte de Leopoldo, um magnífico exemplar barroco que servia tanto para abastecimento quanto como símbolo do poder imperial.

O Terceiro Pátio é considerado o núcleo espiritual e histórico do complexo. Dominado pela imponente Catedral de São Vito, este espaço também abriga o Antigo Palácio Real e a Basílica de São Jorge, criando um verdadeiro panorama da evolução arquitetônica tcheca.

Além desses principais pátios, o complexo conta com diversos jardins, passagens e áreas menores, cada uma com sua própria história e encanto.

As construções mais importantes

A Catedral de São Vito

A joia gótica no coração do castelo abriga as joias da coroa tcheca e os túmulos de reis e imperadores. É ela que se destaca no topo da colina, e que pode ser vista de quase todos os pontos da cidade. Tão bonita e grandiosa que frequentemente causa confusão entre os visitantes: muitos acreditam que a catedral, com suas torres altas e vitrais coloridos, é o próprio castelo.

Esta confusão é compreensível, já que a catedral domina visualmente o complexo. Construída ao longo de quase 600 anos (foi iniciada em 1344 e concluída apenas em 1929), a Catedral de São Vito é um extraordinário exemplo de como diferentes gerações podem colaborar em uma única visão artística. O interior é igualmente impressionante, com seu teto em abóbada que parece desafiar a gravidade, a Capela de São Venceslau decorada com pedras semipreciosas e os vitrais modernistas de Alphonse Mucha, que adicionam um toque de Art Nouveau à atmosfera medieval.

O Antigo Palácio Real

Ao lado da catedral, encontra-se o Antigo Palácio Real (Starý královský palác), que serviu como residência dos príncipes e reis da Boêmia até o século XVI. Seu Salão Vladislav, uma obra-prima do gótico tardio, possui um teto abobadado sustentado sem pilares centrais, uma proeza arquitetônica para a época. Este imenso salão era usado para banquetes reais, assembleias da nobreza e até torneios de cavalaria indoor (as “escadas dos cavaleiros” foram especialmente construídas para permitir que cavaleiros montados entrassem diretamente no salão).

A Basílica de São Jorge

Fundada por volta de 920, a Basílica de São Jorge (Bazilika sv. Jiří) é a mais antiga igreja sobrevivente dentro do complexo do castelo. Seu exterior vermelho-tijolo contrasta com a pedra cinza da catedral, enquanto seu interior românico austero nos transporta para os primórdios do cristianismo na Boêmia. Ao lado da basílica está o Convento de São Jorge, hoje transformado em parte da Galeria Nacional, abrigando uma impressionante coleção de arte medieval tcheca.

Viela do Ouro (Zlatá ulička)

Uma das partes mais pitorescas e fotogênicas do castelo, a Viela do Ouro é composta por diminutas casas coloridas construídas no século XVI. Originalmente habitadas por artilheiros do castelo e, mais tarde, por ourives (daí o nome), essas casinhas de boneca hoje abrigam lojas de souvenirs e pequenas exposições sobre a vida cotidiana em diferentes períodos. O escritor Franz Kafka morou no número 22 por um curto período, um fato celebrado com uma pequena exposição dedicada a ele.

Os jardins: respiros de beleza

Os Jardins do Sul (Jižní zahrady) oferecem algumas das vistas mais deslumbrantes de toda Praga. Estendendo-se ao longo da encosta sul do castelo, estes jardins em estilo terraço barroco permitem contemplar o mar de telhados da Cidade Pequena, com a Ponte Carlos e o rio Moldava serpenteando no horizonte. No verão, a combinação de flores coloridas, estátuas clássicas e o panorama da cidade cria um cenário de indescritível beleza.

O Jardim Real (Královská zahrada), localizado na parte norte do complexo, oferece uma experiência mais reservada e tranquila. Projetado no século XVI como um jardim renascentista italiano, hoje abriga árvores centenárias, o elegante Pavilhão Belvedere e a curiosa Fonte Cantante (uma fonte de bronze que “canta” quando água cai sobre suas bacias).

Várias perspectivas em um só lugar

Ao visitar o Castelo de Praga, vale reservar pelo menos meio dia para uma exploração sem pressa. A troca da guarda, que acontece a cada hora em frente ao portão principal, é um espetáculo de pompa e precisão que atrai multidões de turistas. Para uma experiência mais tranquila, recomendamos explorar os cantos menos conhecidos do complexo, como as passagens secundárias e os mirantes escondidos.

Se você tiver sorte de visitar em um dia ensolarado de primavera ou outono, quando as hordas de turistas são menores, poderá sentir mais plenamente a atmosfera quase mística que permeia essas construções milenares. Cada pedra, cada arco, cada torre parece ter uma história para contar – e, de fato, têm. Este não é apenas um monumento ao passado, mas um lugar vivo que continua a pulsar no coração da identidade tcheca.

Ao finalizar sua visita e descer a grandiosa escadaria em direção ao rio Moldava, você não estará apenas deixando um castelo, mas concluindo uma viagem através de um milênio da história europeia: das invasões vikings às duas guerras mundiais, passando pelo esplendor imperial e pelas lutas pela independência. 

O Castelo de Praga não é apenas um local a ser visitado. É uma oportunidade única de apreciar parte da riqueza histórica e cultural que a Europa tem a oferecer.

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