Reconhecida pelo Guinness Book como a maior cortina de água do mundo, Victoria Falls (Cataratas de Victória) despeja mais de 500 milhões de litros por minuto em sua cheia, caindo por até 108 metros de altura ao longo de uma falha geológica de 1,7 quilômetro de extensão. Não é a mais alta, mas é a mais ampla do planeta. 

O que a diferencia das Cataratas do Niágara ou do Iguaçu é sua configuração geográfica singular: uma longa fenda no planalto que permite contemplar a catarata quase de frente, com a “fumaça trovejante” (Mosi-oa-Tunya, seu nome local) subindo até 400 metros no ar e visível a 50 quilômetros de distância, algo que pudemos confirmar no passeio pelo Rio Zambeze que fizemos no dia seguinte.

Como chegar na Victoria Falls

Victoria Falls marca a fronteira natural entre Zâmbia e Zimbabwe, no coração da África Austral. Do lado zambiano, a base é a cidade de Livingstone, enquanto no Zimbabwe, a cidade homônima Victoria Falls serve de porta de entrada. Ambas possuem aeroportos internacionais com conexões para Joanesburgo, Cidade do Cabo e Lusaka. É possível chegar de ônibus a partir das capitais dos dois países, mas a opção aérea economiza tempo valioso. De qualquer uma das cidades, as cataratas estão a menos de 10 km, acessíveis por táxi ou transfer de hotel.

Quando visitar Victoria Falls

O Rio Zambeze tem ciclos de cheia e seca bem definidos que transformam radicalmente a experiência de visita. Entre fevereiro e junho (quando estivemos lá), no período de cheia, o volume d’água é máximo, criando um espetáculo sonoro e visual avassalador (daí o apelido “fumaça trovejante”), com spray que forma nuvens permanentes e arco-íris constantes (presenciamos vários). 

Já na estação seca (de agosto a dezembro), o fluxo diminui drasticamente, especialmente no lado zambiano, que pode ficar quase sem água. A vantagem deste período é a visibilidade completa da formação rochosa da garganta e a possibilidade de nadar na Devil’s Pool, na beira do abismo, uma experiência impossível (arriscadíssima) na cheia.

Qual lado visitar: pela Zâmbia ou pelo Zimbábue?

A região de Victoria Falls oferece uma grande variedade de experiências com a natureza africana em estado bruto. Durante nossa estadia na Zâmbia, combinamos duas atividades complementares que mostram diferentes facetas do mesmo rio. O passeio de barco pelo Zambeze, descrito no nosso outro post, nos aproximou da vida selvagem em seu habitat natural. Já a visita às cataratas nos dois países proporcionou perspectivas completamente distintas do mesmo fenômeno natural, como se fossem duas maravilhas diferentes. Essa combinação oferece uma compreensão mais profunda do ecossistema e da magnitude geológica da região. Portanto, se bater uma dúvida sobre qual lado visitar, o zambiano ou o zimbabuano, nossa recomendação é: faça o possível para visitar os dois lados, porque são experiências completamente diferentes e que se complementam!

Victoria Falls pelo lado da Zâmbia

Visitar as cataratas pelo lado zambiano proporciona uma experiência de intimidade com a força das águas. Chegamos no Mosi-oa-Tunya National Park e, após um breve percurso pela trilha, chegamos à margem do Zambeze, exatamente na parte superior da queda principal, a Devil’s Pool (o nome é horrível, mas reflete o perigo que ela representa para os mais ousados – ou imprudentes). 

A sensação é de estar literalmente na borda do abismo, observando a água desaparecer logo ali à frente. Durante nossa visita, um hipopótamo curtia tranquilamente as águas, aparentemente alheio à proximidade da queda. Nossa guia fez questão de alertar: “Muitas pessoas acham que, por causa do tamanho e do peso, eles são lentos. Na verdade, eles são extremamente ágeis e responsáveis por mais mortes que qualquer outro animal africano”.

A fronteira molhada: cruzando da Zâmbia para o Zimbabwe

A travessia da Zâmbia para o Zimbabwe (e vice-versa) é feita pela icônica Victoria Falls Bridge, uma obra-prima da engenharia vitoriana que cruza a garganta 128 metros acima do rio Zambeze. 

É necessário passar pelos postos de fronteira, pagar uma taxa em dólar e ter o passaporte carimbado. Entre os dois postos existe uma área curiosa conhecida como “Zimzam” (iniciais dos nomes dos dois países) ou “terra de ninguém” (no man´s land), uma trecho que não pertence oficialmente a nenhum dos dois países. A ponte, inaugurada em 1905, oferece uma vista espetacular das cataratas e é também famosa pelos saltos de bungee jump, para os mais corajosos que desejam um encontro ainda mais radical com o abismo.

Victoria Falls pelo lado do Zimbabwe

O lado do Zimbabwe oferece uma experiência completamente distinta. Aqui, uma rede de trilhas bem estruturadas percorre a borda oposta da garganta por aproximadamente 1,5 km, proporcionando vistas panorâmicas das principais quedas: Horseshoe Falls, Main Falls, Rainbow Falls e Devil’s Cataract. Caminhamos pela floresta tropical, constantemente irrigada pelo spray das cataratas, onde plantas que normalmente não cresceriam nesta latitude prosperam exuberantemente. 

As plataformas de observação estrategicamente posicionadas permitem contemplar a extensão completa da cortina d’água, oferecendo uma compreensão mais clara da magnitude geológica deste fenômeno natural que parece não ter fim quando se olha de um extremo ao outro.

Protegendo-se da "Chuva Trovejante"

Durante o período de cheia, a visita pelo lado zimbabuano exige preparação especial para lidar com o intenso spray de água. Em diversos pontos do percurso, principalmente nas plataformas voltadas para Main Falls e Rainbow Falls, a névoa é tão densa que simula uma chuva tropical intensa e permanente, capaz de encharcar completamente as roupas em segundos. 

Recomendamos alugar as capas de chuva disponíveis na entrada do parque (aproximadamente US$ 3) ou levar proteção impermeável completa. Alguns visitantes improvisam com sacos plásticos para proteger câmeras e celulares, mas dispositivos à prova d’água são ideais. Curiosamente, essa “ducha” natural é refrescante e parte essencial da experiência, especialmente sob o calor africano.

Um encontro inesperado: os verdadeiros donos da estrada

A natureza sempre guarda suas surpresas mais especiais para quando menos esperamos. Essa é uma das coisas que fazem as viagens vale a pena. 

Retornando do Zimbabwe para nosso hotel na Zâmbia, o anoitecer estava chegando quando nossa guia subitamente pediu atenção. “Olhem ali, ao lado da estrada”. Demoramos alguns segundos para distinguir, mas então vimos: uma manada imensa de elefantes se movimentava entre a vegetação densa a poucos metros de nós. 

O que aconteceu em seguida foi mágico: a guia simplesmente pediu que o motorista parasse e, com segurança, nos convidou a descer no na rodovia. Ali mesmo, testemunhamos dezenas de elefantes, incluindo filhotes protegidos no centro do grupo, atravessando a estrada, iluminados pelos faróis de alguns veículos parados. É uma cena tão emocionante que ficou gravada eternamente na nossa memória!

Uma experiência transformadora

Há momentos em viagens que transcendem o status de “atração turística” para se tornarem experiências que redimensionam nossa percepção do mundo natural. Victoria Falls, vista de ambos os lados da fronteira, é indiscutivelmente uma dessas experiências. A combinação do estrondo ensurdecedor das quedas, a umidade permanente no ar, os arco-íris formando-se e desaparecendo a cada instante, e, coroando tudo, o encontro inesperado com os ancestrais gigantes africanos cruzando nosso caminho, tudo isso compõe uma sinfonia natural que ecoa muito depois do retorno para casa. 

As Cataratas Victoria não são apenas uma maravilha geográfica e da natureza, mas um lembrete poderoso de que somos apenas visitantes temporários em um mundo de belezas que existem muito antes de nós e que, por isso mesmo, temos o dever de fazer tudo ao nosso alcance para preservá-lo.

E você, já visitou alguma catarata famosa pelo mundo? Qual foi a experiência com a natureza selvagem que mais marcou suas viagens? Compartilhe suas histórias ou perguntas sobre Victoria Falls nos comentários abaixo!

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