A apenas 12 quilômetros ao norte de Cardiff encontra-se a charmosa Caerphilly, lar de um dos castelos mais impressionantes da Europa. A viagem até lá é surpreendentemente simples: um trajeto de trem de aproximadamente 20 minutos que nos transportou da agitação da capital galesa para uma atmosfera completamente diferente.

Ao desembarcar, uma surpresa: a cidade estava completamente coberta por neve. Enquanto Cardiff apresentava apenas alguns flocos esporádicos, Caerphilly parecia viver um rigoroso inverno nórdico!

Este fenômeno tem explicação geográfica: localizada em um vale cercado por colinas, a uma altitude maior que Cardiff, Caerphilly possui um microclima que frequentemente resulta em temperaturas mais baixas. Como dizem os locais: “Quando chove em Cardiff, neva aqui em Caerphilly.”

Uma cidade à sombra de um gigante medieval

Caerphilly é uma cidade pequena e acolhedora, com aproximadamente 30 mil habitantes, cujo centro histórico preserva o charme típico galês. Lojinhas familiares, pequenos cafés e pubs tradicionais alinham-se nas ruas, mas é impossível não perceber que toda a cidade existe em função do colosso medieval que ocupa seu coração.

Da estação até o castelo são apenas alguns minutos de caminhada. À medida que nos aproximávamos, as enormes muralhas surgiam à nossa frente, cada vez maiores, até dominar completamente o horizonte. Sob a neve, a cena era ainda mais dramática, como um cenário de “Game of Thrones”.

Um gigante entre castelos

O Castelo de Caerphilly não é apenas mais uma fortaleza – é o maior castelo do País de Gales, o segundo maior do Reino Unido (perdendo apenas para Windsor) e um dos maiores da Europa. Construído no século XIII pelo conde Gilbert de Clare, suas dimensões são impressionantes: aproximadamente 30 acres (121 mil m²) incluindo seus lagos defensivos.

Este é exatamente o tipo de castelo que povoa o imaginário quando pensamos em fortalezas medievais. Não por acaso, produções como “Merlin” e “Doctor Who” já utilizaram Caerphilly como locação.

Um verdadeiro castelo aquático

O aspecto mais marcante do Castelo de Caerphilly são seus imensos lagos artificiais que o cercam. Diferentemente da maioria dos castelos com fossos estreitos, Caerphilly é virtualmente uma ilha fortificada, rodeada por vastos espelhos d’água que criavam uma barreira quase intransponível.

No dia de nossa visita, com a neve cobrindo as margens e finas camadas de gelo nas extremidades dos lagos, a visão era de tirar o fôlego. A água escura contrastava dramaticamente com o branco da neve e o cinza da pedra medieval.

Torres, muralhas e a famosa inclinação

A estrutura do castelo é um testemunho da engenharia militar medieval em seu auge. Suas muralhas enormes, com até 3 metros de espessura, são protegidas por torres circulares estrategicamente posicionadas.

O elemento mais fotografado é, sem dúvida, sua torre sudeste inclinada, que pende em um ângulo maior que a própria Torre de Pisa! Essa inclinação não é resultado de erro arquitetônico, mas consequência de danos estruturais sofridos durante as guerras civis inglesas no século XVII. A torre permanece congelada em seu impossível ângulo há mais de 300 anos, desafiando a gravidade e impressionando visitantes.

Quando a neve frustra os planos

E aqui chegamos à parte frustrante de nossa visita. Caerphilly havia recebido significativa nevasca durante a noite anterior, e continuava nevando levemente.

Ao chegarmos à entrada principal, um simpático funcionário galês nos informou, com ar de pesar, que o castelo permaneceria fechado naquele dia. A equipe de funcionários precisava remover a neve acumulada, que representava risco de segurança para os visitantes.

Ficamos decepcionados, é claro. Tínhamos viajado especificamente para conhecer o interior desta maravilha medieval – os grandes salões, as passagens secretas, a exposição sobre a engenharia dos lagos e a vista do topo das torres. Tudo isso terá que esperar para uma próxima visita.

Encontrando beleza nos imprevistos

Apesar da frustração inicial, logo percebemos que a neve que havia impedido nossa entrada também havia transformado o castelo em um cenário de conto de fadas invernal que poucos têm o privilégio de testemunhar.

Decidimos contornar o perímetro do castelo, algo que muitos visitantes apressados acabam negligenciando. Esta caminhada nos proporcionou ângulos e perspectivas que não constam em guias turísticos. 

Observamos como a luz criava reflexos na água parcialmente congelada, como as torres projetavam sombras alongadas sobre a neve, e como os detalhes arquitetônicos pareciam ainda mais definidos contra o fundo branco.

Lições de viagem: abraçando o inesperado

O que aprendemos com esta experiência “frustrada” é que os imprevistos muitas vezes criam as memórias mais duradouras.

Se tivéssemos visitado o Castelo de Caerphilly em um dia normal, teríamos seguido o roteiro turístico padrão. Em vez disso, nossa visita se transformou em uma experiência única. Poucos podem dizer que viram o maior castelo de Gales completamente coberto de neve, refletido em lagos parcialmente congelados, em um dia em que estava fechado para todos os demais visitantes.

São essas experiências não planejadas que frequentemente enriquecem nossas jornadas. Os imprevistos podem ser obstáculos ou oportunidades para vivenciar um lugar de maneira diferente, criando histórias que teremos prazer em contar por anos.

O Castelo de Caerphilly permanece em nossa lista. Seu interior ainda guarda segredos que pretendemos descobrir. Mas a memória daquele dia de neve, da fortaleza silenciosa refletida nas águas escuras, da torre inclinada desafiando a gravidade sob mantos brancos, já ocupa um lugar especial em nossas histórias de viagem.

E você, já teve alguma experiência frustrada que se transformou em um momento inesquecível? Conta para nós nos comentários!

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