A Suazilândia, um dos menores países da África, ocupa apenas 17.364 km², aproximadamente do tamanho do estado de Sergipe.
Esse reino montanhoso, completamente cercado por África do Sul e Moçambique, surpreende por manter sua independência e identidade cultural. Governado por uma das últimas monarquias absolutas do mundo, o país é uma mistura fascinante de tradições ancestrais e modernidade. Sua bandeira colorida, com o escudo de guerra tradicional ao centro, simboliza a orgulhosa resistência cultural que permitiu sua sobrevivência como nação.
*Atualização em abril de 2018m, o rei da Suazilândia, Mswati III, anunciou a mudança do nome do país, que passou a se chamar de Reino de Essuatíni, que significa “terra dos suázis”.
Uma pausa no safári
Nossa visita à Suazilândia foi um descanso entre dois dias de safári no Kruger Park.
Partindo pela manhã do lodge onde estávamos hospedados na reserva de Marloth Park (na entrada sul do Kruger Park), cruzamos a fronteira em Jeppes Reef/Matsamo, um processo relativamente simples que exigiu apenas passaportes e o preenchimento de formulários de entrada. Ali, fomos recebidos com eficiência e cordialidade. A transição da paisagem é gradual, mas perceptível: as planícies da savana sul-africana começam a dar lugar a colinas verdejantes que anunciam um território muito diferente.

O povo das tradições vivas
A sociedade suazi é estruturada em um sistema patriarcal fortemente hierarquizado, onde o rei (Ngwenyama, “o leão”) é figura central. A poligamia é prática comum (o rei anterior tinha mais de 70 esposas). As mulheres usam saias coloridas e tops que indicam seu estado civil e posição. Observamos como a vida familiar gira em torno do homestead, conjunto de cabanas circulares onde várias gerações convivem. Apesar da modernização, especialmente nas cidades, as decisões importantes ainda passam pelos chefes tribais e o Grande Conselho Real.




Montanhas e vales: um contraste com as savanas
Diferentemente das extensas savanas que dominam o Kruger Park, a Suazilândia impressiona por seu relevo acidentado e microclimas variados. O país é dividido em três regiões geográficas: o Highveld (terras altas) com picos que chegam a 1.800m, cobertos por florestas de eucaliptos e pinheiros. O Middleveld com colinas suaves e vales férteis. E o Lowveld, mais quente e seco. Essa diversidade permite uma fauna surpreendente, incluindo espécies de aves e borboletas exclusivas das montanhas, além de uma flora que mistura elementos da savana e da floresta subtropical.







Arte em vidro reciclado: Ngwenya Glass
Com a visita à fábrica de vidros Ngwenya, conhecemos uma fascinante história de empreendedorismo sustentável. Desde 1987, artesãos locais transformam garrafas descartadas em delicadas obras de arte, especialmente animais africanos em miniatura. Observamos o processo completo: do vidro derretido em fornos a 1.400°C até o sopro meticuloso que dá vida a elefantes, girafas e rinocerontes translúcidos.
A cooperativa emprega dezenas de suazis, especialmente mulheres, e exporta para lojas de decoração em toda Europa e América do Norte, provando que sustentabilidade e tradição podem coexistir em harmonia.



Engenharia moderna
Fizemos uma parada para conhecer uma das maiores obras de engenharia do país, a Barragem de Maguga impressiona não apenas por suas dimensões imponentes (115 metros de altura e 762 metros de comprimento), mas por contrastar com a paisagem rural ao redor.
Inaugurada em 2001, esta monumental obra de engenharia no Rio Komati transformou a agricultura local, permitindo irrigação nos períodos secos. Do mirante, contemplamos o enorme lago artificial cercado por montanhas, enquanto pescadores locais lançavam suas linhas nas águas profundas.
Apesar de controverso por deslocar comunidades, o projeto, que teve apoio financeiro da África do Sul, simboliza os esforços de modernização do pequeno reino.











Imersão cultural em Matsamo
A Vila Cultural de Matsamo ofereceu nossa experiência mais autêntica com as tradições suazi. Fomos recebidos com cantos tradicionais e a famosa Rain Dance, onde mulheres jovens em saias coloridas movem-se em sincronia perfeita, imitando o cair da chuva tão vital para esta nação agrícola.
Os homens executaram impressionantes danças guerreiras, saltando verticalmente com lanças e escudos. Ainda tivemos tempo para conhecer um pouco do cotidiano, enquanto moradores preparavam suas refeiçoes, feitas de modo tradicional, direto na lenha.












Um reino de contrastes e resistência
Nossa breve passagem pela Suazilândia proporcionou um vislumbre fascinante de um país raramente incluído em roteiros turísticos convencionais. Este pequeno reino encravado no coração da África do Sul impressiona pela determinação em preservar sua identidade cultural única, enquanto abraça aspectos seletivos da modernidade.
Foi uma experiência contrastante com os safáris no Kruger, e nos fez lembrar que a África é um continente de extraordinária diversidade, não apenas natural, mas também cultural e histórica.
Deixamos a Suazilândia com a sensação de ter descoberto um tesouro escondido, onde tradições milenares e vida contemporânea coexistem em equilíbrio delicado. A hospitalidade calorosa do povo suazi e seu orgulho cultural palpável tornaram esta breve visita uma das mais memoráveis de nossa jornada africana.
Você já teve oportunidade de conhecer pequenos países com culturas preservadas como a Suazilândia? Compartilhe suas experiências nos comentários!



