Livingstone, nomeada em homenagem ao famoso explorador escocês David Livingstone, é uma cidade que respira história e natureza em igual medida. Fundada em 1905 como posto colonial britânico, foi a primeira capital da Zâmbia (então Rodésia do Norte) até 1935.
Diferentemente de outras cidades africanas, Livingstone mantém um charme nostálgico com suas construções coloniais e ruas arborizadas. A proximidade com as magníficas Cataratas Victoria conferiu à cidade o status de portal para uma das maravilhas naturais do mundo, transformando-a em importante centro turístico sem perder sua autenticidade.
Como chegar em Livingstone, no coração da África Austral
Localizada no extremo sul da Zâmbia, Livingstone está a poucos quilômetros da fronteira com o Zimbábue e Botsuana. O Aeroporto Internacional de Livingstone recebe voos de Lusaka (capital da Zâmbia), Joanesburgo e Cidade do Cabo. Uma alternativa é chegar pelo aeroporto de Victoria Falls, no Zimbábue, e cruzar a fronteira. Os mais aventureiros podem optar pelos ônibus que partem de Lusaka em uma jornada de 6 horas através da savana africana. Uma vez na cidade, táxis e shuttles dos hotéis facilitam a locomoção para as principais atrações.

Experiências naturais imperdíveis
Livingstone oferece uma gama imensa de experiências para amantes da natureza, incluindo safaris, trilhas e outras opções de aventura. Escolhemos duas atividades fantásticas durante nossa estadia. A primeira foi a visita à Victoria Falls (Cataratas Victoria, onde a força de 550 milhões de litros de água despencando em uma garganta de 108 metros cria uma cortina de névoa visível a 20 km de distância. Os locais a chamam de “Mosi-oa-Tunya”, a fumaça que troveja. A segunda atividade foi o passeio pelo Rio Zambeze, uma jornada aquática que nos aproximou da vida selvagem africana em seu habitat natural, e que contamos aqui como foi.

O majestoso Rio Zambeze
Quarto maior rio da África, o Zambeze percorre 2.700 km desde sua nascente na Zâmbia até desaguar no Oceano Índico em Moçambique. Ao redor de Livingstone, o rio é largo e imponente, com aproximadamente 1,5 km de largura antes de despencar nas cataratas. O que torna o Zambeze único é seu ecossistema pulsante: suas águas tranquilas neste trecho abrigam crocodilos e hipopótamos, enquanto suas margens servem de bebedouro para elefantes, búfalos e diversas espécies de antílopes. E esse é um grande diferencial em relação a outros grandes rios mundo afora: durante o passeio pelo Zambeze, as chances de se deparar com essa enorme diversidade animal são realmente muito grande.
Já as ilhotas vegetadas que pontilham seu curso criam um labirinto aquático de beleza inigualável.

Navegando em embarcações especiais
Nosso passeio foi realizado em um barco de alumínio com fundo chato, especialmente projetados para a navegação no Zambeze. Esse design não é por acaso, permite navegar em águas rasas e aproximar-se das margens sem encalhar, essencial para a observação da vida selvagem.
Com capacidade para 10 a 12 passageiros, além do piloto e de guias, essas embarcações oferecem mobilidade e estabilidade. Os guias locais explicam que o fundo plano também reduz o impacto ecológico no rio, não perturbando tanto o leito quanto embarcações convencionais fariam.


Encontros selvagens (e raros) nas águas africanas
Durante as duas horas de passeio, percorremos vários quilômetros rio acima, onde a vida selvagem se revela em sua plenitude. Um dos pontos altos foi avistar dois enormes elefantes machos em uma disputa territorial na margem. As orelhas enormes agitavam-se furiosamente, levantando nuvens de poeira enquanto os gigantes se empurravam com suas presas. Nosso guia explicou que estávamos presenciando um ritual raramente observado por turistas: uma demonstração de força para estabelecer hierarquia. O barco permaneceu imóvel, enquanto todos ficavam em silêncio reverente diante daquele espetáculo primitivo.



Os guardiões ancestrais do rio Zambeze
Os crocodilos do Nilo, alguns com mais de 5 metros de comprimento, são os predadores supremos do Zambeze. Com seus corpos pré-históricos repousando nas margens arenosas, parecem troncos inofensivos até que um movimento sutil revela olhos atentos e escamas brilhantes. Nosso guia alertou sobre acidentes fatais com caiquistas desavisados, enfatizando a regra de ouro: nunca colocar a mão na água. Um garoto americano de uns 10 anos gritava de animação quando um crocodilo nadou próximo ao barco, seus olhos amarelos fixos em nós.







Um café no meio do rio
Um dos momentos mais emocionantes do passeio foi a parada que fizemos para um café em uma ilhota no meio do rio, na área próxima à maior queda pelo lado da Zâmbia. Descer do barco foi aquele misto de euforia com um pouco de medo, afinal, estávamos em um local repleto de crocodilos e outros animais selvagens. Aproveitamos o café carinhosamente preparado pelos guias (e pensando positivo: “eles são experientes, eles sabem o que fazem”), mas sempre atentos a qualquer movimentação.






No reino dos hipopótamos
Numa pequena enseada protegida, nosso piloto nos levou à “piscina dos hipopótamos”, um santuário natural onde dezenas desses gigantes aquáticos se refugiam do calor. Inicialmente, apenas olhos e narinas eram visíveis na superfície, como pequenas ilhas flutuantes. Conforme o barco se aproximou cautelosamente, os bichos começaram a emergir, revelando suas dimensões impressionantes. Quando chegamos a uma distância respeitosa, vários hipopótamos abriram suas bocas enormes em um aviso inconfundível: “este território é nosso!”. Em outro trecho, testemunhamos um hipopótamo adulto saltando de um barranco arenoso para a água em nossa direção. Ainda bem que estávamos a uma distância segura.









A sinfonia alada do Zambeze
O Zambeze não é apenas lar de uma megafauna impressionante, seus céus e margens abrigam uma quantidade diversificada de aves que adicionam cores e melodias à paisagem. Durante nosso passeio, avistamos abelharucos-de-garganta-branca e de testa-branca, pássaros de plumagem vibrante que mergulham habilmente na água para capturar pequenos peixes. Várias espécies de mergulhões exibiam suas técnicas de pesca, desaparecendo sob a superfície por longos segundos antes de emergir com o jantar no bico (eventualmente, alguns podem virar caça em vez de caçadores, e terminarem se tornando alimento para algum crocodilo faminto).





Uma experiência que vai além do turismo
O passeio pelo Zambeze vai muito além da diversão turística, é uma imersão em um ecossistema onde nós somos apenas visitantes respeitosos. Quem manda são as espécies locais. As águas que testemunhamos continuam seu curso há milênios, sustentando uma teia de vida complexa muito antes de qualquer explorador europeu registrar sua existência.
Quando o sol começou a se pôr, tingindo o rio de tons dourados e alaranjados, sentimos o privilégio de experimentar a África em sua essência mais pura. As memórias dos elefantes em combate, das bocas abertas dos hipopótamos e dos olhos vigilantes dos crocodilos tornam-se souvenirs preciosos que nenhuma loja pode vender.




Um convite à exploração responsável
Livingstone e o Rio Zambeze representam o melhor que o ecoturismo africano pode oferecer: experiências autênticas de contato com a natureza selvagem preservada. Os operadores locais trabalham com diretrizes rigorosas para minimizar o impacto ambiental, mantendo distâncias seguras dos animais e limitando o número de embarcações. Visitar esta região não é apenas testemunhar a grandiosidade natural, mas contribuir para sua preservação através do turismo sustentável. Se a África está em seus sonhos de viagem, o majestoso Zambeze em Livingstone merece um lugar de destaque em seu roteiro.
E você, já teve alguma experiência memorável com a vida selvagem em suas viagens? Já navegou em algum rio emblemático ao redor do mundo? Compartilhe suas histórias nos comentários!









