Depois de explorar o Vale dos Reis, seguimos para Deir el-Bahari, onde fica uma das construções mais magníficas do Egito: o templo mortuário de Hatshepsut. A história desta governante é fascinante e controversa. Filha do faraó Tutmés I, Hatshepsut inicialmente serviu como regente para seu enteado e sobrinho Tutmés III, que era apenas uma criança quando seu pai faleceu.
No entanto, em um movimento sem precedentes, ela assumiu o título completo de faraó por volta de 1473 a.C. Para legitimar sua posição, Hatshepsut adotou iconografia masculina, sendo frequentemente retratada com a barba postiça e o torso nu tradicionais dos faraós. Sua ascensão representou uma ruptura extraordinária na tradição egípcia, onde mulheres raramente exerciam poder supremo.
Um templo que desafia convenções
Construído no século XV a.C., o templo mortuário de Hatshepsut é uma obra-prima arquitetônica que quebrou paradigmas. Diferentemente dos tradicionais templos egípcios, com seus pórticos fechados e atmosfera misteriosa, Hatshepsut optou por um projeto aberto, luminoso e harmoniosamente integrado à paisagem.
O arquiteto Senenmut, possivelmente seu conselheiro próximo e talvez amante, desenhou uma estrutura de três terraços ascendentes conectados por amplas rampas cerimoniais.
Cada nível do templo conta uma parte da história da rainha-faraó: sua divina concepção, suas conquistas políticas e expedições comerciais.
As colunas proto-dóricas do terraço superior antecipam em quase mil anos elementos que seriam característicos da arquitetura grega, demonstrando a visão inovadora de seus criadores.





Narrativas em pedra: e expedição a Punt
Os relevos nas paredes do templo são verdadeiros documentos históricos esculpidos em pedra. Ali, os egiptólogos identificaram as representações da expedição comercial à misteriosa Terra de Punt (possivelmente na região da Somália ou Eritreia atual). Essas cenas detalhadas mostram navios egípcios carregando mercadorias exóticas, incluindo árvores de mirra, animais africanos e especiarias preciosas.
Essa documentação não apenas evidencia o alcance do comércio exterior egípcio, mas também representa um raro registro de exploração geográfica antiga.
Durante nossa visita, observamos como os hieróglifos acompanhando estas imagens foram fundamentais para que arqueólogos reconstruíssem a história de Hatshepsut. Ironicamente, esses mesmos registros que seu sucessor tentou apagar tornaram-se cruciais para sua redescoberta pelos egiptólogos modernos.








Um legado redescoberto
Após sua morte, o faraó Tutmés III tentou sistematicamente apagar Hatshepsut da história, destruindo estátuas e alterando inscrições. Esse “apagamento” quase funcionou. Por séculos, os egiptólogos sabiam pouco sobre ela até escavações no século XIX começarem a revelar seu legado extraordinário.
Hoje, Hatshepsut é reconhecida como uma das governantes mais importantes do Egito Antigo, tendo presidido um período de prosperidade, uma paz relativa (embora ela tenha liderado incursões de guerra), expansão comercial e realizações arquitetônicas monumentais durante seu reinado de aproximadamente 21 anos.
Para nós, compartilhar esta história com David, de apenas 4 anos, foi especialmente significativo. Ele percorreu as rampas encantado, tentando “ler” os hieróglifos com dedos pequenos traçando as figuras, talvez inspirado pela ideia de que, mesmo em tempos antigos, regras podiam ser desafiadas e novas possibilidades criadas.





Grandiosidade e inovação
O templo de Hatshepsut é um exemplo da capacidade inigualável dos egípcios inovarem e construírem obras grandiosas, muitas delas com técnicas que são ainda hoje um mistério para a humanidade.
A grandiosidade dessa construção nos faz imaginar como era seu uso e os grandes eventos que ocorreram ali naquelas enormes rampas.
E você, já visitou o templo de Hatshepsut ou outros monumentos do Egito Antigo? Como foi sua experiência ao ver pessoalmente essas maravilhas arqueológicas? Se estiver planejando uma viagem ao Egito, pretende incluir Deir el-Bahari em seu roteiro? Compartilhe nos comentários suas experiências ou dúvidas sobre a visita a alguns dos sítios arqueológicos mais importantes da Antiguidade.




