A Pinacoteca di Brera, no coração de Milão, é um dos mais importantes museus da Itália e um verdadeiro templo da arte europeia. A maioria das pessoas não sabe, mas ela foi fundada em 1809 por Napoleão Bonaparte, no período em que Milão se tornou a capital do Reino da Itália, sob o domínio napoleônico.
Embora tenha nascido com propósito didático para os estudantes da Academia de Belas Artes, logo se transformou em um repositório incomparável do patrimônio artístico italiano.
Por desejo de Napoleão, a coleção de obras de arte existente na Pinacoteca foi expandida e transformada em um museu nacional, com o objetivo de exibir as pinturas mais importantes de todos os territórios conquistados pelo exército francês. Essa decisão transformou a Pinacoteca em um importante centro cultural, reunindo obras de arte de diversas regiões do país.
Durante o período napoleônico, muitas obras de arte de igrejas e mosteiros da Lombardia foram incorporadas à coleção da Pinacoteca, bem como obras de outras áreas do Reino da Itália. Essa expansão contribuiu para a formação do acervo diversificado e representativo da arte italiana que a Pinacoteca possui atualmente.
Sua coleção abrange obras-primas que contam a evolução da arte italiana do século XIII ao XX, com especial foco no Renascimento lombardo e veneziano.


Na escadaria principal da Pinacoteca di Brera, uma estátua de Cesare Beccaria “guarda” a entrada desse templo das artes. Uma justa homenagem a um dos maiores expoentes do Iluminismo italiano, que era milanês. Jurista, filósofo, economista e literato milanês do século XVIII, Beccaria desafiou o sistema punitivo da Europa da época, defendendo a igualdade perante a lei, a abolição da pena de morte, a erradicação da tortura, julgamentos públicos e penas proporcionais aos crimes. Sua obra seminal, “Dos Delitos e Das Penas”, lançou as bases filosóficas do direito penal moderno, buscando humanizar as leis e alinhá-las com os princípios iluministas.
Elegância a serviço da arte
A Pinacoteca está abrigada no majestoso Palazzo Brera, um imponente edifício do século XVII que originalmente serviu como mosteiro jesuíta. O visitante é recebido por um elegante pátio interno neoclássico, onde a estátua de bronze de Napoleão como Marte Pacificador estabelece o tom grandioso da experiência. As 38 salas distribuem-se em um circuito lógico e cronológico, permitindo uma compreensão da evolução dos estilos.

Obras-Primas da Pinacoteca di Brera
A Pinacoteca di Brera, em Milão, é um dos mais importantes museus de arte da Itália, abrigando uma coleção extraordinária de obras-primas da pintura italiana. O museu oferece um panorama completo da arte italiana, desde o século XIV até o século XIX, com destaque para a pintura renascentista e barroca. Entre os grandes mestres representados, encontram-se alguns dos maiores nomes da história da arte italiana, cujas obras demonstram a genialidade e a diversidade da produção artística do país. O museu também abriga esculturas e artes decorativas, complementando a experiência e oferecendo um mergulho profundo na riqueza cultural da Itália.
A "Lamentação sobre o Cristo Morto" (Compianto sul Cristo morto) de Andrea Mantegna
Pintada entre 1475-1478, essa obra representa uma revolução na perspectiva renascentista. O corpo de Cristo é retratado em um escorço dramático e inovador, como se fosse visto dos pés, criando uma ilusão tridimensional que desafiou as convenções artísticas da época. Além de ser muito reproduzida mundo afora, essa obra serviu de inspiração para outros artistas e, posteriormente, para muitos fotógrafos.

"O Casamento da Virgem" (Lo Sposalizio della Vergine) de Rafael

A abora, de 1504, demonstra a elegância e harmonia matemática do jovem mestre. A obra é especialmente significativa por revelar a transição do estilo de seu mestre Perugino para a linguagem própria que marcaria Rafael como um dos maiores gênios do Renascimento italiano.
"O Beijo" (Il bacio) de Francesco Hayez
“O Beijo” (Il bacio) de Francesco Hayez, 1859, transcende seu status de obra romântica para se tornar um símbolo político do Risorgimento italiano. O casal em trajes medievais representa alegoricamente a união da Itália, enquanto as cores da composição sutilmente evocam a bandeira italiana, transformando uma cena aparentemente romântica em um manifesto nacionalista que ainda ressoa com a identidade cultural italiana.

"A Ceia em Emaús" (Cena in Emmaus) de Caravaggio
Pintada em 1606 durante seu exílio, exemplifica a revolucionária técnica do chiaroscuro que transformaria para sempre a pintura ocidental. A cena bíblica é transportada para uma taverna contemporânea, com Cristo sem auréola e apóstolos retratados como homens comuns, demonstrando a abordagem radicalmente naturalista que desafiou as convenções religiosas da época.

"Torrente" (Fiumana) de Giuseppe Pellizza da Volpedo
Estudo preparatório para seu famoso “O Quarto Estado”, captura uma das primeiras representações dignificadas da classe trabalhadora na arte italiana, marcando a transição para uma arte socialmente consciente que influenciaria movimentos artísticos do século XX.

Uma experiência imperdível em Milão
A Pinacoteca di Brera oferece muito mais que uma coleção de quadros famosos, proporciona uma jornada através da alma artística italiana. Diferentemente de museus mais turísticos, a Brera mantém uma atmosfera contemplativa que permite uma conexão genuína com as obras.
Recomendamos dedicar pelo menos três horas à visita, idealmente nas primeiras horas da manhã de terça ou quarta-feira, quando o fluxo de visitantes é menor. O áudio-guia em português, disponível na entrada, enriquece significativamente a experiência, revelando detalhes e contextos que transformam cada sala em um capítulo fascinante da história da arte.
E você, já teve a oportunidade de se emocionar diante destas obras-primas que moldaram nossa compreensão da arte? Compartilhe sua experiência na Pinacoteca ou conte-nos qual obra mais desperta sua curiosidade!