Depois de explorar as magníficas ruínas de Angkor, nossa jornada pelo Camboja nos levou a uma experiência completamente diferente: a descoberta das vilas flutuantes do gigantesco lago Tonle Sap.  

Essa aventura nos levou além dos roteiros turísticos tradicionais, proporcionando um vislumbre da vida cotidiana e dos desafios enfrentados pelas comunidades que habitam esse fascinante ecossistema.

A viagem para Chong Kneas

A viagem de tuk-tuk até Chong Kneas, a cerca de 30 km de Siem Reap, foi um primeiro contato com a realidade cambojana fora do circuito mais turístico. As paisagens que se desdobravam diante de nossos olhos revelaram a riqueza e a complexidade do país, muito além das ruínas milenares. 

Observamos a vida simples das pessoas, a paisagem rural e a infraestrutura local. O contraste entre a opulência histórica de Angkor e a simplicidade da vida rural foi marcante.

Uma comunidade adaptada à natureza

Antes de chegarmos às vilas flutuantes propriamente ditas, passamos por uma comunidade de pescadores.  Suas casas, construídas sobre palafitas, são um testemunho da adaptação humana a um ambiente naturalmente desafiador. 

A proximidade com o lago Tonle Sap, o maior do sudeste asiático, impõe um ritmo de vida condicional às variações do nível da água, principalmente durante a estação chuvosa.  

As casas são elevadas para evitar inundações e, em épocas de cheia, muitas famílias precisam deslocá-las para locais mais altos, literalmente, no ombro.  

A simplicidade das construções, apesar da sua engenhosidade e adaptabilidade, não deixa dúvidas sobre as condições de vida muitas vezes precárias dessas comunidades.

Os desafios do Lago Tonle Sap

Antes de alcançar as vilas flutuantes, navegamos por uma comunidade ribeirinha de pescadores que sobrevivem daquilo que conseguem extrair do lago.

Finalmente, chegamos Tonle Sap, o maior lago do Sudeste Asiático, um ecossistema rico e complexo, mas também extremamente vulnerável.  

A grandeza do lago, que muda de tamanho conforme as estações (a variação pode chegar a 10 metros de profundidade), impressiona pela sua beleza e pela diversidade de vida que abriga. 

Entretanto, essa riqueza natural contrasta fortemente com a realidade de muitas famílias que vivem nas vilas flutuantes, a maioria em casas minúsculas feitas de metal sobre estruturas de bambu ou barris. 

Nossa conversa com moradores locais revelou as dificuldades enfrentadas no dia a dia: a dependência da pesca, a precária qualidade da água e a vulnerabilidade às intempéries. 

A falta de acesso a saneamento básico e cuidados médicos representa um desafio significativo para a saúde da população. A água que eles consomem e da qual eles adquirem seus alimentos é a mesma água na qual eles despejam seus dejetos, e isso tem consequências graves para a saúde dos moradores.

As escolas flutuantes: educação em meio às águas

A visita a uma escola flutuante foi particularmente comovente. Essa estrutura, adaptada às condições do lago, oferece educação às crianças de famílias que vivem nas vilas flutuantes, muitas das quais são órfãs ou provêm de famílias em situação de extrema pobreza. A escola é um espaço muito importante de integração da comunidade.

A que visitamos foi construída em barcaças interligadas, abrigava cerca de 100 crianças, divididas em salas de aula por faixa etária. Observamos as crianças participando de atividades, a dedicação dos professores e a organização da escola, que além das salas de aula, inclui uma cozinha comunitária onde as crianças recebem três refeições diárias de arroz com peixe.

Por falar em arroz, ele é a base da alimentação da população. Uma das contribuições que eles pedem aos turistas é a doação de um sacão de arroz, vendida em um armazém flutuante para onde, provavelmente, o piloto do seu barco irá levar você antes da visita à escola.

Conversamos com uma professora, que nos contou sobre os desafios de ensinar num ambiente instável, a necessidade constante de reparos e adaptações, e a força da comunidade em apoiar a escola.

Um encontro memorável

A presença do nosso filho gerou uma série de situações inesperadas e tocantes.  

Sua espontaneidade e energia infantil superaram as barreiras da linguagem e da cultura. Ele se aproximou das crianças com naturalidade, oferecendo seus brinquedos – carrinhos e aviões – e se envolvendo em brincadeiras com elas.

Observamos o David, em meio ao grupo de crianças, rindo e se divertindo com as brincadeiras, e ele mesmo se aventurando a pilotar um triciclo da escola. O seu entusiasmo foi contagiante, criando um momento de genuína interação cultural.

Essa experiência não foi apenas observacional para David, foi uma experiência de troca, de aprendizagem e de formação da sua sensibilidade. A generosidade em comprar doces para as crianças, mesmo sem ser solicitado, demonstrou uma sensibilidade afetiva surpreendente para sua idade.  

A troca de sorrisos, de gestos e de brincadeiras mostrou que as relações humanas podem ser maiores do que as diferenças culturais, e mostrou a universalidade da infância e a capacidade de conexão entre crianças, independentemente de suas origens.

Reflexões sobre o passeio

A viagem ao lago Tonle Sap representou muito mais que um passeio turístico. Foi uma imersão numa realidade cultural e social complexa, um confronto com os desafios da pobreza e da desigualdade, mas também um testemunho da força, da resiliência e da dignidade humana. 

Toda essa experiência nos impulsiona a refletir sobre o nosso papel como viajantes responsáveis e sobre a importância da solidariedade global para a construção de um futuro mais justo e igualitário.

E você, tem experiências e reflexões sobre o turismo responsável e a solidariedade global que gostaria de compartilhar com a gente!  Deixe seu comentário abaixo!

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